segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Por que o Espírito Santo tem de intervir?

– Ele na verdade nos faz raciocinar ao contrário. Na revelação [cristã] temos de começar no final a fim de compreender o início. É precisamente isso o que o Espírito Santo nos leva a fazer: ver a cruz através da ressurreição e, similarmente, os pecados do homem através do perdão. A condenação através da graça. É porque Deus nos perdoa que somos capazes de apreender a extensão do nosso pecado, quando para o homem o método natural seria pecar primeiro e pedir perdão a Deus depois. Para mim, isso é absolutamente aberto e absolutamente liberador. É heresia pregar sobre pecado e condenação sem antes pregar sobre liberdade e perdão.
 
 
- Jacques Ellul, em entrevista a Patrick Chastenet

terça-feira, 23 de agosto de 2011

E o inferno?

"É conhecida a observação do Abade Mugnier que, quando lhe perguntaram se acreditava no inferno, respondeu: 'Certamente acredito nele; mas também acredito que não há ninguém lá'. Isso me parece mais do que um lampejo espirituoso. É um ponto de vista que é inerente a toda a perspectiva da Bíblia, de que a severidade e as ameaças de Deus – ou o que o homem em seu remorso atribuem a Deus – são destinadas a nada menos que a sua salvação e a conservá-lo fora do abismo."

Paul Tournier - Culpa e Graça (parágrafo suprimido na versão brasileira)


Nota: pretendo voltar a falar mais sobre esse livro. Aguardem!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Estado Laico?

Recebi do meu amigo Hugo pelo Facebook um convite para um evento, uma “Postagem coletiva em defesa do Estado Laico”, promovida pelo site dos Livres Pensadores.

Tudo muito bom, tudo muito bem, a princípio achei a idéia simpática, mas havia algo me incomodando. Estado Laico? Será mesmo? Não conseguia concordar integralmente... Será que eu estava inconscientemente me transformando em um fundamentalista? Por fim, me dei conta do que me incomodava: sim, eu sou contra o Estado Laico. Na bem da verdade, sou contra o Estado em si, seja ele Laico, Teocrático, como for.

Entretanto, trabalhando dentro do conceito atual de sociedade (como cristão é meu dever estar inserido dentro dela), tenho algumas considerações a fazer. Sou sim favorável ao Estado Laico. Porém, dentro do contexto de laicidade do Estado, existe também a liberdade de expressão e a liberdade do culto. Por mais que eu seja contrário à religião interferindo no Estado, existe uma parcela da população brasileira simpática à essa idéia. Basta ver a tal da “bancada evangélica”, que a cada ano vai angariando mais votos. Sendo assim, devo eu concordar com eles e seus métodos? Claro que não! Relembrando de Foucault e Nietzsche (para quem o Estado era o “monstro mais indiferente de todos os monstros”), e dentro dos estudos de Vernard Eller, o Estado não pode ser neutro, e qualquer que seja seu caráter, ele vai acabar sendo ditatorial (não, não acredito na falácia da democracia representativa) para com a minoria não governante (Bakunin que o diga!). Sendo assim, coloco-me em xeque: uma ditadura fundamentalista ou uma ditadura laica? Uma ditadura dos auto-proclamados cristãos que não passam de túmulos bonitos (Mt 23:27), ou de pessoas "iluminadas" pelo progresso científico, pela filosofia e pelo racionalismo? Nenhuma das duas, obrigado. Os dogmas, as inflexibilidades, o preconceito e o descaso estão presentes em ambos os lados, só mudam os termos. Cada um acha que é o portador da verdade, e não o são.


Compreendo e sou simpático àqueles que se sentem incomodados pela religiosidade exacerbada, assim como compreendo e sou simpático àqueles que creem em algo que está além de sua compreensão. Entretanto, como sempre, falta um diálogo claro e coerente. E pode parecer a primeira vista que os nossos amigos ateus estão mais perto disso, mas não estão. Parafraseando Karl Barth, o “titã” racionalista é mais perigoso, pois passa a falsa impressão de liberdade humana e livre pensamento, mas acaba desprezando uma racionalidade e espiritualidade diferenciada, que sofre o preconceito de ser “obscurantismo”.

O que sei nisso tudo, é que não se atinge a espiritualidade das pessoas através das esferas políticas, assim como não se convencem pessoas de seus erros chamando-as de “retrógradas, fundamentalistas e ignorantes”. O que falta nisso tudo, é o bom e velho Amor, ou mesmo um pouco de respeito e compreensão mútua.